Eu nunca escondi o quão filógino é meu gosto pela arte, principalmente a música. A arte feita por mulheres ou com temas femininos sempre desperta uma curiosidade instantânea em mim.
Quero voltar numa cena de Londres na década de 60, pra falar de Delia Derbyshire, que bem antes de eu nascer trabalhava com música, criando sons e desenvolvendo técnicas que definiram a maneira de produzir música que conhecemos hoje. E ela suspeitava que isso fosse acontecer:
"What we are doing now is not important for itself, but one day someone might be interested enough to carry things forwards and create something wonderful on these foundations." - Delia DerbyshireMeu primeiro conhecimento sobre Delia Derbyshire foi pesquisando sobre música concreta e minimalismo, mas só agora me aprofundo em sua obra. Pra começar, ela estudava matemática mas se interessava por música. Foi recusada para trabalhar na editora Decca, que na época não contratava mulheres (a mesma editora que recusou os Beatles), mas conseguiu um emprego em uma empresa que trabalhava com música para rádio, teatro e documentários.
Delia então entrou para o time da Workshop Radiophonic da BBC, uma espécie de oficina onde ficavam os técnicos de som da emissora BBC e lá criou o tema de abertura de um programa chamado Doctor Who, que não faço idéia do que se trata mas foi o que deu visibilidade a Delia, não apenas pela popularidade do programa, mas pela polêmica de ter sido composta por uma simples técnica e não um músico. A BBC se negou a dar os créditos a Delia pela composição deste e de muitos outros trabalhos.
Tenho escutado o disco An Electrical Storm do The White Noise, projeto de Delia Derbyshire, David Vorhaus e Petter Zinovieff, com uma forte pegada psicodelica em pleno 1969. Eu sou leiga em discos daquela época mas aquela sonoridade me parece muito ousada. Uma ousadia em amplo sentido é a faixa My Game of Loving:
Somente entre 2000 e 2001 Delia retomou o contato com produção, colaborando para o projeto E.A.R. - Experimental Audio Research de Peter Kember, quando declarou:
"Now without the constraints of doing ‘applied music’, my mind can fly free and pick-up where I left off.” - Delia Derbyshire.Mas infelizmente naquela altura Delia já estava abalada por um cancer e faleceu logo em seguida, ainda em 2001, deixando para o mundo uma nova noção de sonoridade, influenciando muitas bandas e, confesso, entrando pra lista de mulheres que me inspiram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário